Era uma manhã bastante calma no condado de Derbyshire, Chatsworth House nunca esteve tão bela aos cuidados da FamÃlia Cavendish, especialmente da Duquesa de Devonshire, Lady Beatrice, seu esposo, o Duque, Lorde Howard
estava falando sozinho novamente, isso algo que havia se tornado bastante frequente
e rotineiro, o que estava preocupando, de certa forma, seus três filhos. Lorde Malcolm, o seu herdeiro, já era reconhecido pelas redondezas como Duque em
exercÃcio, por conta da invalidez de seu amado pai, rótulo o qual ele mesmo não
apreciava ser mencionado, pois preferia que o chamassem de Lorde Malcolm
Cavendish, como todos os outros membros de sua famÃlia. Lady Beatrice e Lorde Howard se retiravam para
Chatsworth House, afim evitar a desgraça social, enquanto Lorde Malcolm atendia a
todos os compromissos em nome de seu pai, o que deixava as suas ambiciosas
irmãs muito irritadas, ambas sedentas por uma ascensão na sociedade
Britânica e também por uma parcela da gorda fortuna em dinheiro que o pai deixaria, elas estavam sempre fazendo o possÃvel para
mencionarem que eram filhas do Duque de Devonshire. Portia, a irmã mais velha,
entrou em desgraça social, aos olhos de sua mãe, por perder seu tÃtulo quando se casou por amor com Albert
Weston, um advogado de classe média, e acabou se mudando para uma casa modesta no centro de Londres, já Katharina, sua irmã do meio, fez a jogada perfeita
para uma garota na sua idade, fez com que, Richard Churchill, o Conde de
Promathom, se apaixonasse por ela, deixando-a ainda mais rica.
Havia um
bom tempo desde que os três filhos não visitavam Chatsworth, desde o último
feriado, haviam se passado cerca de dois meses e com seu pai à beira da
loucura, os filhos estavam determinados a passar o máximo de tempo possÃvel
juntos, seria muito agradável se não fosse por conta da terrÃvel doença que
estava acontecendo, pois foi esse o fator que começou a tornar os feriados mais
cansativos e muito tediosos. Howard começou a não reconhecer mais os filhos, ou
os netos, quando visitavam Chatsworth, eles ficavam fadados a se entreter
jogando cartas, fazendo duetos entre as meninas, ou lendo algum livro na
grandiosa biblioteca que Lady Beatrice possuÃa, mas o feriado de Halloween
estava chegando e Londres iria ficar simplesmente insuportável por no mÃnimo
três dias.
Os
primeiros a chegar foram os Promathom, Lady Katharina era famosa por sempre
chegar atrasada nos lugares, mas quando se tratava em visitar sua famÃlia, ela
fazia questão de chegar mais cedo, pois gostava de passar um tempo sozinha com
seu pai, alguns diziam que ela tentava coagi-lo a passar o tÃtulo a Richard, juntamente
com todas as terras e a fortuna da FamÃlia Cavendish, o que pelas leis
britânicas seria impossÃvel. Katharina chegara exausta naquela manhã, mas foi
ao quarto de seu pai para dizer pessoalmente que havia chegado, mas quando o
avistou pela greta da porta que estava entreaberta, deu um passo para trás, ele
estava simplesmente virado para a parede, conversando sozinho. "O que será
que se passa na cabeça desse pobre homem?" pensou ela, deu meia volta e
seguiu para o salão principal, para dizer a Jane, sua criada, onde colocar as
malas e onde suas filhas iriam ficar. O restante do dia foi tranquilo, Richard
saiu para a vila para colocar algumas cartas no correio, enquanto Lady Beatrice
convidou sua filha e suas netas para tomar chá na biblioteca. O sol já estava
começando a se pôr quando Portia chegou, como sempre, muito barulhenta e
baderneira, chegou gritando para as criadas de sua mãe, ordenando isso e aquilo, em favor de suas duas filhas mimadas, Lady Beatrice, que não
tolerava o comportamento da filha desde que era criança, sugeriu que ela baixasse o tom de
voz, pois não estava em sua casa, Portia por sua vez disse:
- São
apenas criadas, mamãe, pare de mimá-las-
Lady
Katharina retrucou imediatamente:
- Diz
isso porque não possui criadas, pois não precisa com aquela casa minúscula de
subúrbio que você mora em Londres-
- Parem
de ser tão amargas, minhas filhas, tantos anos e ainda não aprenderam? - Disse
Lady Beatrice. - Onde estão Miranda e Elizabeth? Quero beijar minhas netas! –
Disse ela, tentando cortar o assunto.
- Elas
foram para o quarto, mamãe, estão cansadas da viagem. E é o que eu farei
também, vamos Albert. – Disse Portia
- Fico
feliz em te ver, Sr. Weston, como vão os negócios em Londres? – disse Lady
Beatrice, com um tom solene – Muitos casos para resolver?
- Não
muitos Sua Graça, mas os que tenho, resolvo com louvor – disse Sr. Weston
- Não
precisa me chamar dessa maneira, Sr. Weston, somos famÃlia – disse Lady
Beatrice, envergonhada.
A noite
foi chegando escura e fria, após a ceia, todos já haviam partido para os seus aposentos, Lorde Malcolm chegou tarde, com sua famÃlia, e apenas os
empregados estavam de pé, eles o receberam e Lorde Malcolm foi checar seu pai,
mas felizmente, este estava em sono profundo, dormia como um bebê. Ele não quis acordá-lo apenas para dizer "oi!". Lady Cordélia, sua esposa,
já havia adormecido, quando ele chegou para deitar-se, mas o
flamejar das velas, e o som do vento batendo na antiga janela quebrada do
quarto de hóspedes, não o deixaram dormir de maneira alguma, então ele decidiu ir à biblioteca, onde poderia ser um lugar calmo e tranquilo, para procurar
um bom livro, na tentativa de adormecer lendo. Assim que chegou, não haviam
velas acesas, e as janelas batiam contra o vento, pois a ventania noturna começara a ficar
mais violenta e hostil, depois de muito caminhar entre as estantes da gloriosa
biblioteca de sua mãe, Lorde Malcom acabou optando por romance policial, logo percebeu que estava adormecendo aos
poucos, mas continuou lendo.
O dia amanheceu nublado, e os criados pareciam
não ter colocado a mesa, as velas da noite ainda estavam nos castiçais, e não
havia uma lareira sequer acesa na casa. Lorde Malcolm foi imediatamente para a
área onde os criados permaneciam, mas não os encontrou em lugar algum,
devia ter um engano, não poderia ser, já passavam das nove horas e não podia-se
encontrar um criado em toda a casa. Lorde Malcolm voltou para o seu quarto,
atordoado, sem conseguir compreender tamanha displicência dos criados de seu
pai. Ao chegar em seus aposentos, Lorde Malcolm não encontrou sua esposa. Lady Cordélia nunca saÃa cedo de casa, ainda mais em Chatsworth, não haviam vilarejos por perto, ou amigas para visitar nas redondezas, ele decidiu checar no quarto em que os
filhos estavam, e também não os encontrou lá. Seu coração batia mais forte a
cada segundo e ele não podia conter a respiração pesada, estava se sentindo
mal, e não conseguia raciocinar direito, Lorde Malcolm estava correndo em direção ao quarto de suas irmãs, quando
escutou um grito agonizando perto de uma das salas que ficavam entre as alas de Chatsworth, seu coração gelou, por um instante, quase parou, ele avistou sua famÃlia sendo
amordaçada, haviam ladrões, dez deles, Malcolm não entrou na sala de vez, mas
conseguia espiar, seu coração não parava de bater, batia cada vez mais forte,
como se fosse sair de seu peito, um barulho soou dentro da sala, um vaso
quebrado, uma gota grossa de suor caiu em seu dedo do pé descalço, ele apenas
sentiu um braço forte deslizando rapidamente, agarrando ele, juntamente com um
berro:
- Finalmente
o ultimo deles!- bradou o bandido, festejando.
- Lorde Malcolm
Cavendish! meu caro Duque. - disse outro bandido, que tinha uma aparência
magra e cabelos loiros como o milho.
Malcolm
não o reconhecia, sua visão estava turva, ele estava passando mal, mas não
queria demonstrar na frente de toda a sua famÃlia.
- Que
sorte a nossa! – bradou ele – encontramos todos juntinhos aqui! Agora é o
seguinte, nós vamos saquear toda a casa e levar tudo o que tem de valor aqui dentro.
Lady
Cordélia olhava fixamente para o esposo e mantinha os dois filhos perto dela,
mesmo com os braços amarrados, seu rosto de neve, estava vermelho em lágrimas.
Portia estava desmaiada em cima de Albert, que tentava acalentar as duas
filhas, Katharina estava com os olhos para baixo, sem se mover, em choque,
Richard estava desmaiado também, com um meio roxo em um dos olhos, Viola e Frederick, seus
filhos, estavam juntos em outro canto enquanto sua mãe, Lady Beatrice e seu pai, Lorde Howard, estavam amarrados no canto mais distante da sala. Lorde Malcolm tentou se levantar, mas um dos bandidos deu
um soco em seu estomago, fazendo com que ele caÃsse imediatamente. Sua esposa começou a berrar. Colocaram-no de joelhos no chão novamente e o mesmo bandido, o loiro, começou:
- Agora é que você vai ver toda a sua famÃlia ser morta, e você sabe por quê? Porque nós
estamos cansados da sua vida luxuosa! – ele
estava rindo – vocês vão ter o que merecem seus cretinos!
Todos os
bandidos saÃram da sala e depois de muitas horas voltaram e com eles levaram
Miranda e Elizabeth, que gritavam e esperneavam a todo custo, Albert gritava e
tentava desfazer os nós, sem sucesso, tentou levantar e os bandidos bateram
nele até que ficasse quieto. Passou-se um tempo. Os gritos das garotas
haviam cessado. Já era quase final da tarde. Um deles retornou e levou
Viola, a filha mais velha de Katharina, que gritava loucamente, ela era a maior e
pesava mais, precisaram de dois dos bandidos. Cerca de meia hora se passou. A noite já estava cercando Chatsworth, não haviam velas acesas, muito menos uma lareira. Todos tremiam de frio. foi então que Viola voltou. Dois pratos de
sopa. Olhos em lágrimas. Seu rosto estava em total espanto, ela abaixou-se,
com um bandido segurando uma enorme faca atrás dela. A sopa. Tinha uma cor
avermelhada e era muito gordurosa. Viola não conseguia parar de chorar. O bandido loiro, que parecia ser o comandante. Entrou na sala. Chegou perto de
Viola. Colocou uma faca em seu pescoço. E disse:
- Vamos,
meu anjo, faça como eu disse para que você fizesse! – em um tom, muito
sarcástico.
Ela tirou
as mordaças do Tio Albert e da Tia Portia, e começou a servir a sopa, Portia não conseguia
tomar e toda hora tentava cuspir, pois tinha um gosto horrÃvel, Albert tentava engolir o mais rápido que pudesse,
pois queria saber onde estavam suas filhas e o que haviam feito com elas. Ele estava com um olhar atordoado. A noite
estava ainda mais escura, e os ventos estavam descontrolados, as janelas não
paravam de bater, dentro da casa, tudo estava escuro, e eles pouco enxergavam,
na sala, tinha apenas uma vela, que estava na mão de um dos bandidos, perto de
onde Albert e Portia estavam tomando a sopa. Todos estavam famintos, mas assim
que eles terminaram de tomar, o bandido disse:
- Isso é
o que vai acontecer com todos vocês, se não começarem a dizer onde que escondem
o dinheiro! Eu quero joias, quero tudo o que tiverem!
- Onde
estão minhas filhas? – disse Portia, com a voz tremula, pois ainda estava sem
mordaça.
O bandido
começou a rir, e sua risada era malvada, quanto mais ele ria, mais Viola
chorava. Ele chegou bem perto de Portia. Encarou-a, chegou ao ouvido dela. E sussurrou:
- Não
consegue sentir o gosto delas em sua lÃngua? – ele se afastou rindo muito alto,
enquanto Portia gritava desesperada, berrando “minhas filhas! Ele matou as
minhas filhas!” ela não parava de berrar, até que veio um bandido e deu outro
soco nela, e a amordaçou novamente. O bandido encarava Albert, que estava
chorando, mas tentava manter-se forte para a esposa, e ele disse:
- Onde
estão as joias, e os pertences de valor? Seu cretino! – e cuspiu na cara dele.
Albert se
segurou, e respondeu com calma:
- Nós não
possuÃmos, estão perguntando ao homem errado.
O bandido
se virou bruscamente para Malcolm, que assistia calado, virou a faca em seu
pescoço e disse:
- Quer
tomar sopinha da sua mulher? Então me diz onde que vocês guardam o dinheiro e
as joias!
Eles
tiraram a mordaça para que ele falasse:
- Ficam
em um cofre nos aposentos de meu pai, e outro na biblioteca.
Eles
levantaram Lorde Malcolm e começaram a andar com ele, Cordélia começou a
gritar, pois acreditava que iriam mata-lo também, mas estavam apenas o conduzindo aos
cofres, a cada passo de Lorde Malcolm, um dos bandidos ameaçava empurrar a faca através das costas dele, afim de que ele mostrasse a senha correta, começaram a ameaçá-lo e continuavam dando tapas e socos, ao chegar nos aposentos de Howard, encontraram o cofre escondido onde haviam jóias de famÃlia, e uma boa quantia em dinheiro, eles colocaram tudo em sacos de linhagem e depois seguiram para a biblioteca, onde Malcolm fez como eles ordenaram, onde
eles abriram ultimo cofre com alguns pertences de valor sentimental, com raiva, pelo ultimo cofre estar praticamente vazio, deram um soco tão forte no queixo de Malcolm que
ele ficou desmaiado em cima de uma poltrona.
Finalmente,
o dia amanheceu belo, os criados andavam para cima e para baixo, acendendo as
lareiras, até que Jane, umas das criadas, avistou Lorde Malcolm dormindo na
biblioteca, com um livro nos braços. Ela o acordou e disse que todos estavam
loucos procurando por ele, pois estavam esperando-o para o desjejum.
Por Henrique Oliveira
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